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21/03/2020

21 de março: dia Internacional da Síndrome de Down

O dia 21 de março – Dia Internacional da Síndrome de Down – é uma data utilizada para debater sobre o tema com o principal objetivo de trazer visibilidade social, ou seja, para tornar as pessoas com Síndrome de Down mais presentes nas empresas, propagandas, escolas e locais de passeio, aumentando o desenvolvimento das pessoas e da sociedade, que assim, aprende a conviver e a respeitar as diferenças.
No Brasil existem aproximadamente 300 mil pessoas com Síndrome de Down e para abordar o assunto, convidamos Dra. Débora de Moraes, Odontopediatra há mais de 35 anos, especializada em crianças com a síndrome para falar um pouco mais sobre higiene bucal dessas crianças.

 

Por que decidiu trabalhar com crianças com Síndrome de Down?
No Trabalho da odontopediatria não existe separação: acolher crianças com Síndrome de Down, significa acolher todas as crianças. Embora haja diferenças expressadas geneticamente, para mim sempre foi muito natural trabalhar com crianças com síndrome de Down, paralisia cerebral entre outras condições.

Como costuma ser o comportamento de crianças com Síndrome de Down nas consultas?
Os comportamentos apresentados no consultório sempre foram muito variados já que o comportamento delas é um reflexo da conduta dos pais, familiares a amigos.
Existem algumas características que fazem parte da síndrome, como dificuldade na comunicação, receio, dificuldade na pronúncia de algumas palavras, mas o que eu pude presenciar em todos esses anos de carreira, é que quando a criação estimula o desenvolvimento, elas se mostram mais aberta, mais comunicativas – mesmo que não com palavras- e demonstram mais entendimento do que está sendo solicitado ali.

Elas podem apresentar agressividade?
Essas crianças são muito doces, mas devido muitas vezes a sua dificuldade de comunicação, ela pode manifestar uma maior agressividade no sentido de se defender.
É uma situação muito nova para a criança estar em um consultório, mesmo que ela vá com frequência, pois os procedimentos podem ser muito diferentes ou causar dor. Além disso, existe uma pessoa “estranha” na frente dela naquele momento. São muito fatores para a criança processar.

Quais são as principais dúvidas das mamães e papais em relação aos dentinhos dos filhos?
Como as pessoas com Síndrome de Down podem apresentar algumas particularidades como ausência de dentinhos permanentes ou de leite, arcada dentária em outro formato, um volume de língua diferente entre outras,  é muito comum ouvir em consultório perguntas como “ Vai desenvolver de uma forma normal?”, “Vai ter um sorriso bonito?”, “Ela consegue aceitar o tratamento?”, “Vai conseguir se comunicar bem?”, “Se ela estiver sentindo dor, ela vai conseguir se expressar?” e “É possível usar aparelho para correção dos dentes?”.
Para nós, profissionais capacitados, lidar com essas perguntas e com os pacientes é muito tranquilo. Nós conseguimos entender se o paciente está com dor, ele consegue sim se comunicar com a gente. Em muitos casos, é possível utilizar aparelhos fixos. Eu tive muito pacientes com Síndrome de Down que utilizavam aparelho! Tudo depende da condição do paciente e é claro, de uma profunda avaliação.

 

 

Como deve ser a rotina de higiene bucal das crianças com Síndrome de Down?
A rotina bucal em si, não é tão diferente das demais crianças. O que pode ser diferente é que, em geral, crianças com Síndrome de Down podem desenvolver sua coordenação motora um pouco mais tarde, e por isso, para realizar movimentos da escovação adequados e fio dental, podem precisar dos pais ou cuidadores por mais tempo.
Uma dica legal é evitar alimentos com muito açúcar ou carboidratos, pois geralmente há uma menor produção de saliva em quem possui a Síndrome, fazendo com os dentes fiquem mais expostos a fermentação que gera cáries. Outra dica é tornar o momento mais lúdico e divertido, com cremes dentais de sabor agradável e sempre fazendo com que fique claro que aquele momento faz parte da higiene como um todo, ou seja, assim como ele toma banho, limpa a orelhinha e o umbiguinho.

Qual dica você daria para papais de crianças com Síndrome de Down?
Eu diria para os pais não terem receio de incluir as crianças em meio social. Claro que algumas situações precisam ser resguardadas, mas em geral, não tenham medo de incluir, observar, sentar junto, entender as particularidades, buscar a interação com outras crianças, mergulhar nesse universo junto com elas.
Quanto mais natural e precoce for essa comunicação, as vivências e convívio dela com outros, mais ela irá se desenvolver e sentir seu lugar de pertencimento tanto na família quanto na sociedade.

Qual você sente que é o seu maior desafio? E qual é o maior desafio dos pais?
Meu maior desafio é que os pais compreendam que o que estou fazendo, que a opção clínica e de condução da situação que decidi seguir são as melhores opções para o paciente, mesmo que haja desconforto ou um pouco de dor.  Outro desafio é a compreensão por parte dos pais de que muitas vezes as recomendações dadas precisam ser seguidas. É comum no papel de pais em querer proteger os filhos seguindo o pensamento de que eles “não precisam” fazer ou passar por determinadas situações, mas como profissionais capacitados tudo que sugerimos e sempre para o melhor dos pacientes.

Dra. Débora, você gostaria de acrescentar algo a nossa conversa?
Gostaria de falar sobre minha experiência nesses 35 anos e em como foi especial poder te recebido tantas crianças com Síndrome de Down em meu consultório.
Foi maravilhoso poder ter aprendido tanto com elas: com a delicadeza, com a sensibilidade com o enorme potencial que possuem, mesmo que muitas vezes desacreditado.
Conviver com pais tão engajados na vivência dessas crianças também é uma experiência extraordinária!
Gostaria de encerrar a conversa voltando ao ponto da estimulação precoce e do cuidado natural: papais, entendam que dentro das limitações singulares de cada pessoa com Síndrome de Down, existem infinitas possibilidades. Estimulem seus filhos!